setembro 27, 2006

Em ruínas

Há um prédio semi-construído mesmo em frente ao meu. A construção parou porque a Câmara de Lisboa de repente se lembrou que não podia haver prédio nenhum ali, uma vez que passa por aquele sítio uma linha de água. O prédio em questão está em esqueleto, mas já numa fase bastante avançada. À frente, tapumes bloqueiam a vista de quem passa na rua.

O meu terraço fica ao nível do segundo andar desse prédio, com vista previligiada para o que por lá se passa. Sacos-cama pelo chão, corda da roupa com toalhas estendidas, muita gente a passar de um lado para o outro, seringas e cascas de limão, lixo, muito lixo, gente a viver em condições degradantes. Isto numa zona central de Benfica, de imenso movimento, com prédios novos em frente, a polícia sempre a rondar. Não posso ir ao terraço sem ver toda a movimentação de uma sala de chuto. E sem me verem de lá.

Não consigo perceber porque não faz a Câmara alguma coisa acerca da situação, já que não pode haver um prédio ali, seria de esperar que o deitassem abaixo e fizessem um jardim, afinal os espaços verdes na cidade não só não abundam como são alvo de constante promessa eleitoral.

Mas por enquanto, eu ofereço-me para prestar um serviço público de interesse à comunidade: quem tenha filhos e os queira educar mesmo a sério acerca dos riscos e malefícios das drogas pesadas, faça favor de mandar e-mail para visitas de estudo aqui a casa. Garanto que as crianças não se hão-de esquecer nunca.

6 comentários:

Mipo disse...

acho que no teu caso escrevia à CML... talvez não adiantasse muito, mas pelo menos tentava

o bicho furioso disse...

Eu cá escrevia para todo o lado, Câmara, Junta, fazia piquetes, cartazes, chamava a TVI....por acaso sempre estranhei aquilo ali, que nem atava nem desatava...

Acho incrível que em Portugal continuem a acontecer coisas destas, começarem a construir para depois perceberem que afinal não se podia construir...

Ou pior ainda, deixarem construir em sítios onde não se pode construir, mas só para os amigos, é claro...enfim!!

Anónimo disse...

Sempre apreciei a consciencia, ora pelo pesado articular das palavras que a definem,ora pelo sabor requintado que a fuga à mesma proporciona. Isto para te dizer que compreendo a sensação de insegurança eminente, mas é ela mesmo que cria os mais
úteis anticorpos contra as piores coisas da vida. Sim é aborrecido gastar uma dinheirama num dos metros quadrados mais caros da cidade para dar de caras com uma "estrutura de chuto" ali ao lado da nossa janela - mas pensa assim - seria melhor viver na ignorância de um condominio fechado no parque dos principes?

Quanto a escrever. A expressão "The pen is mightier than the sword" perdeu por completo toda a validade, o que escrevemos vale cada vez menos, assim como o que dizemos, muitas vezes pela absurdez da fanática repetição outras pela ausencia de crença. Abandonando o texto, mastigando o lamento devotos da acção. Proponho que agarres nos teus meninos e os leves numa visita de estudo a casa do presidente da junta de preferência à hora da floribela e uma vez acampados ali mesmo à portinha dele, que se dê o arraial!

(drifter)

o bicho furioso disse...

Bolas! Agora é que percebi a razão (após meses e meses de interrogações!) do porquê da tua persiana da janela da sala estar sempre descida!!

Tás a ver? Eu passo pela tua casa todos os dias e lembro-me de ti!! =P

C. disse...

Ora bem... Também já pensei escrever para a CML, mas... Eu soube que o dito prédio estava embargado porque a minha vizinha do lado trabalha na CML, é secretária de alguém importante lá dentro. E mesmo assim, e já tendo ela tentado puxar uns cordelinhos, NADA.

A TVI ou o acampamento à hora da Floribela talvez sejam hipóteses a explorar, então.

O meu problema, Drifter, não é propriamente sentimento de insegurança. Não acho que me vá, a mim pessoalmente, acontecer nada de seriamente grave por ter uma sala de chuto em frente à janela. Até porque sei que se não fosse ali, era noutro sítio qualquer, talvez mais próximo do que imagino, até porque isto deve ser o Club Med dos carochos e ucrânianos, que no inverno eles partem para outras paragens, deve ser da falta de janelas e portas, e de certeza que não alugam quartos para a estação mais fria.

O meu problema na verdade são vários: sim, não gosto de ser confrontada constantemente com essa realidade, era mais confortável olhar para árvores e meninos a correr pelo parque; mas irrita-me mais o facto de ter sido concedida uma licença para um prédio, estando o dito quase concluído afinal já não pode ser, e agora que parou a construção, lavam-se as mãos do assunto apesar de, imagino eu, a linha-de-água continuar no mesmo sítio; o governo (as pessoas?) dizem "não" a salas de chuto (ou ao aborto, ou à prostituição), e no entanto elas existem, mais ou menos tapume, e em condições completamente degradantes. E o que se faz? Nada vezes NADA. Deixa lá 'tar o tapume, que assim sempre dá para ir ignorando.

sarrafo disse...

Se fosse a ti, tirava umas fotos interessantes de noite com tudo apagado juntava a história e mandava por mail para todas as redacções e cadeias de televisão... era só quase fazer copy paste.... e nunca se sabe...