Eu sempre fui uma pessoa de convicções fortes e mal ou bem não consigo entender os ditos católicos não-praticantes. Lamento, mas do meu ponto de vista ou se é, ou não se é, e se se é os deveres daí resultantes têm que ser cumpridos.
(Já agora, aproveito para avisar que fui católica desde os seis anos, com fortes convicções, praticante e com alguma curiosidade por assuntos bíblicos e de fé, o que como é óbvio não deu bom resultado, pois a partir de certa altura as contradições deram de si e consequentemente desde os onze anos que me converti à religião que pratico agora: o ateísmo).
Mas como é óbvio, há limites para tudo, e a fé não deve ser levada a extremos de estupidez, o que infelizmente acontece vezes demais. E a história que vou contar a seguir relata isso mesmo.
Há muitos e muitos anos atrás, quando eu ainda não passava de uma adolescente revoltada mas apesar de muto, muito parva ainda com algumas réstias de inteligência fui parar a uma turma onde por coincidência também foram parar outras duas pessoas muito envolvidas na religião católica.
Tão, tão envolvidas que para vos dar um exemplo durante uma visita de estudo a Lisboa não queriam ir a nenhuma discoteca porque estavam no período de Quaresma. Até aqui tudo bem, convicções são convicções.
Mas depois de terem estragado a toda a turma mais do que uma aula de Filosofia quando o professor teve a infeliz ideia de nos mostrar na aula o filme d'O Nome da Rosa com uma série de debates infelizes sobre a fé e que o filme era imoral porque dava um mau nome à Igreja - e por mais que o professor tivesse tentado explicar que na verdade durante a Idade Média era isto que acontecia e que a fé era a fé e a filosofia era a filosofia e que elas tinham era mais do que separar estas duas coisas e onde até se chegou a argumentar que a Inquisição não tinha existido (e olhem que isto foi dito entre os protestos vigorosos de 29 pessoas: a turma toda mais o professor) eis que um dia estou eu mais as minhas amiguinhas e as duas beatas num sítio qualquer todas ao mesmo tempo e vá-se lá saber porquê a conversa foi dar ao mesmo de sempre.
Particularizando, fomos dar com a conversa ao tema sempre polémico do casamento. Acho que já é sobejamente conhecida a minha posição sobre o assunto, quem quer casar que case eu é que não me parece muito obrigada, mas como é óbvio quem casa e se arrepende pelo caminho que se divorcie, por quem sois. Mas como todos nós sabemos o divórcio não é apoiado pela Igreja Católica e por consequência também não era apoiada pelas duas beatas.
Portanto, os argumentos válidos de "mas as pessoas têm que ver se são compatíveis sexualmente antes de tomarem um passo desses" tinham sempre uma resposta de "Sexo antes de casamento? Nunca! Que horror!" e por aí em diante, tudo sempre cheio de explicações cheios de conteúdo teológico e desprovidos de sentido prático.
A coisa foi subindo de tom, "o casamento é sagrado", "mas porquê?", e foi subindo de tom, "mas se duas pessoas se dão mal porque é que têm de estar juntas?", porque "se Deus uniu só Deus é que separa", "mas que raio de lógica tem isso? Deus quer que eu esteja infeliz?" e até que uma delas, já farta da conversa e extremamente exaltada, se lembra de dizer o seguinte (juro-vos, até vai ter direito a parágrafo!):
"Olhem, para vos dar um exemplo, o meu pai bate na minha mãe mas não faz mal porque eles são casados!"
De facto, a discussão acabou por aqui. Eu e as minhas amigas olhámos umas para as outras, despedimo-nos delas e fomos embora dali e nunca mais tocámos no assunto. Elas devem ter ficado todas contentes, embrenhadas na sua "vitória". Nós decidimos que contra aquele tipo de ignorância não valia a pena preocuparmo-nos: cada um tem o Deus (e a vida) que merece.