Volta e meia, gosto de rever "O Sexo e a Cidade". Ah, o conforto daquelas personagens conhecidas, tão perfeitamente delineadas, que afinal representam facetas de todas (/os?) nós. Desde que a série começou, lá para o fim dos 90's, que eu me identifiquei com um mix de cerca de 45% Carrie, 40% Miranda, 14% Samantha e 1% Charlotte. Já me têm ouvido dizer que se cheguei assim aos 30, parece-me difícil que mude tão cedo. Agora, eu não via a primeira série há uns anos, e se é verdade que me continuo a identificar com as personagens largamente na mesma medida, fiquei verdadeiramente pasmada quando os paralelismos entre situações vividas começaram a tornar-se evidentes, o que dantes não acontecia. Aquilo eram enredos de ficção, ou coisas que só acontecem em Nova Iorque. Mas não é que 10 anos depois, acontece tudo muito da mesma maneira em Lisboa? Claro que não é exactamente da mesma maneira - em Lisboa não há tantos modelos, nem tantos sapatos de 500 dólares e muito menos ruas nas quais seja possível andar com eles, nem tantos bares e restaurantes onde encontramos toda a gente completamente por acaso, e por cá (pela real life, that is) há mais fineza na escala de cinzentos e não há tamanha obcessão pelo casamento, valha-nos Santo António, mas a ficção tem destas coisas.
O que é ainda mais interessante é que o que penso acerca dessas mesmas situações mudou - e, em alguns casos, radicalmente. Gostamos de pensar que as pessoas não mudam, mas a verdade é que mudamos e nem sempre pelas melhores razões, nem sempre porque queremos, às vezes porque o que nos rodeia muda e não temos outra escolha que não adaptar-nos; às vezes, raramente mas finalmente, mudamos porque compreendemos que assim não chegamos a lado nenhum.
*(and isn't afraid to ask)