setembro 11, 2007

Reingresso

Há 10 anos atrás, quando resolvi contra a opinião de muitos (todos?) sair da faculdade de belas-artes para ingressar na de letras parecia-me a melhor ideia do mundo escrever um livro acerca do assunto. Toda a gente perguntava porquê. E eu, para dizer a mais pura verdade, sempre me esquivei à resposta. À verdadeira. Gostava de ler, dizia eu - era e é verdade, sempre foi das actividades que mais prazer me deu - o meu talento estava nessa direcção, queria dar aulas de inglês, blá blá blá.

Tenho o tubo dourado ali na estante. Tive boas notas a algumas disciplinas, regra geral verifica-se uma relação constante de proporcionalidade directa entre a quantidade da nota e a qualidade do professor, tive notas baixas ou perfeitamente medíocres noutras mesmo quando sabia que conseguia fazer melhor, tive notas excelentes a duas ou três porque era inevitável, não porque fossem fáceis, mas por de facto ter um talento natural para as apreender e aplicar.

Mas hoje, aos 29 anos, dos quais os três últimos passados a fazer um trabalho que não me apaixona, nem sequer me seduz, e que desde há uns tempos a esta parte me tem tornado numa pessoa algo infeliz e por isso muito pouco interessante, sou forçada a olhar para mim mesma e num primeiro momento enfrentar, e logo depois aceitar que nunca fiz na vida aquilo que realmente queria por uma única razão: medo. Medo de não prestar, medo de não ser boa o suficiente, medo de não conseguir, medo de falhar. Não é uma conclusão fácil. Mas é o primeiro passo para a mudança.

A partir dessa altura, há 10 anos atrás, bloqueei. Quando me perguntavam se a minha veia artística ainda fluía, mudava de assunto. Não voltei a desenhar, apesar de desenhar desde sempre, desde que me reconheço como gente. A ideia de desenhar mete-me medo. Já não tenho a mão treinada. Jeito ainda terei, sempre tive, mas desenhar é como escrever, não se vai lá sem prática, sem muitos erros, sem muito rasga-e-volta-a-tentar.

Qual é a ideia de voltar a belas-artes? Para mim mesma e para todos vocês que querem saber e os muitos que não hesitam em perguntar e para os quais eu francamente não tenho muita paciência (it's not you, it's me), aqui ficam as principais razões, em forma de lista para não se queixarem que o texto-era-muito-denso-não-li-diz-lá-que-assim-percebo-melhor:

1. Preciso de liberdade. Liberdade da mente, liberdade de expressão. Contribuíram para esta necessidade, quase como se por de ar se tratasse, estes últimos três anos. Podia não ter sido assim, concordo. Podia não me ter deixado encaixotar e aprisionar por aquilo que fazia durante 8 (ou 9, ou 10) horas do meu dia. Tentei. Não consigo. Assim, a escolha restringe-se a duas opções: ou viro artista, ou vou para a faculdade. Como sou intelectual, reconheço que preciso de conhecimento, logo a opção dois ganha.

2. Liga com o ponto primeiro no que diz respeito à sede por conhecimento. Conhecimento técnico, numa primeira instância. Preciso de saber fazer alguma coisa. Como não me interessa minimamente a engenharia e de facto o meu talento reside nas humanidades, não há mesmo volta a dar-lhe. Belas-artes it is.

3. Esta é de mim para mim: Acredita em ti. Realiza o teu potencial. Deixa-te de merdas. Faz-me mesmo muita falta deixar-me de merdas.

4. Não, não tenho neste momento um objectivo completamente definido. Gostava de ter, e acredito que este seja um passo importantíssimo nesse caminho. Como diziam os Aerosmith, life's a journey, not a destination. Walk this way. E eu vou.

5. Enquanto eu for eu, vou mesmo rasgar-e-voltar-a-tentar. Até dar certo.